segunda-feira, 5 de abril de 2010

AH, SE O PROBLEMA FOSSE SÓ A CAMISA...
04/04/2010 - 23h58min




Os clubes cariocas vivem problemas idênticos. Cada um se divide em forças levadas por ambições e vaidades que nada têm a ver com estatutos, camisas ou compromissos com a História. Em 1972, Washington Rodrigues deixava a Rádio Globo. Waldir Amaral me chamou e disse: ´”Áureo, você é vascaíno mas vai se violentar. Preciso de você no Flamengo. O Washington está nos deixando e preciso de um repórter experiente como você na Gávea. É uma questão de profissionalismo.” Meio atordoado, senti, naquele momento, a lição número um do jornalista. No exercício de sua função ele não pode se prender a paixões. Tem que ser isento. Parti para a nova missão. Senti certo temor. Logo desfeito pela maneira cortez com que fui recebido pelo “inimigo”.



Pessoas como Jorge Helal, Ivan Drumond, Hélio Maurício faziam de tudo para que eu me sentisse em casa. Vi o lançamento e a subida de Zico, Junior, Rondinelli, o falecido Geraldo, Adílio, entre outros. Certa vez, um garoto bom de bola, esperança do clube, desapareceu. Helal, que era o homem forte do futebol de base, estava desesperado. Ninguém sabia onde o garoto tinha se metido. Ligaram para a Rádio e me avisaram que ele foi visto vendendo doces na plataforma da Central do Brasil. Parti pra lá. Encontrei o garoto vendendo doces. Ele me contou que a família estava passando por dificuldades. Não recebia nada do Flamengo. Era o único filho homem e estava ali se virando para levar dinheiro pra casa. Confesso – tive vontade de levá-lo para o Vasco. Mas, minha consciência reprovava essa idéia. Acabei levando-o à loja do Jorge Helal na Rua da Alfândega. Ele acertou uma certa quantia mensal com o garoto e mandou que ele voltasse imediatamente para a Gávea. Abraçou-me e disse: – “Você, além de vascaíno, é uma pessoa admirável.”



Ainda tive o prazer de ver esse garoto, já jogador feito, defendendo com muita dignidade a camisa do Vasco. Tive o prazer de vê-lo dando a volta olímpica como campeão pelo Vasco. É um cara de excelente caráter (que já demonstrava quando ainda garoto, vendendo doces para ajudar a família). Passei uns dois anos cobrindo o Flamengo. Sempre torcendo pelo Vasco. Mas fazendo meu trabalho com toda a dignidade. Zico, Junior, Helal, Joubert, Cantarelli, Liminha estão aí para confirmar o que estou dizendo. O que eu quero dizer é que, na minha passagem por la, assistia às mesmas disputadas políticas. Enquanto o time treinava dentro do campo, do lado de fora, se formavam grupinhos; Uma conspiração constante contra tudo e contra todos. Cobrindo o Flamengo eu, cada vez mais, sentia a grandeza do Vasco. Voltei ao nosso clube no ano do primeiro campeonato brasileiro. Mil novecentos e setenta e quatro.



Uso, até hoje, o medalhão chaveiro comemorativo do evento. Que, pouca gente sabe, esteve ameaçado no tapetão. A diretoria do Cruzeiro foi informada de que o nosso atacante, Jorginho Carvoeiro, não tinha certificado de conclusão do curso primário. Por isso queria tirar o campeonato do Vasco. Foi um corre-corre muito grande nos bastidores. O certo é que, procura daqui, procura dali, o certificado apareceu. O campeonato era mesmo nosso. As coisas para o Vasco são sempre difíceis. Senti isso na pele várias vezes. Como repórter cheguei à conclusão de que era muito mais fácil cobrir o Flamengo. Qualquer coisa que la acontecia era importante para os donos da mídia. Quando o nosso atual presidente esteve para assinar contrato com eles, senti outra vez a pressão. Chegaram a fazer uma montagem de um gol do Dinamite pelo Flamengo com um passe do Zico. A montagem já estava preparada para ser levada ao ar pela Rádio Globo. Foi quando Eurico partiu para a Espanha e impediu o negócio. (Quantas voltas dá esse mundão de Deus....). Agora estamos vivendo a “batalha” da camisa. Enquanto isso, problemas que se arrastam há vários anos não têm solução. Entramos na semana de mais uma decisão contra eles. O que a torcida quer, na realidade, são vitórias. Títulos. Taças. Conquistas. Camisa nunca foi problema para o Vasco. E esse terceiro uniforme nada mais é que um cortina de fumaça para enganar o torcedor.
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2 comentários:

  1. Sábias palavras brother.

    Abraço
    Jeferson
    Blog do Vascão

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  2. Opa,
    Acho que os nomes que estao ou estiveram a frente do vasco tem egos muito grandes, pondo-os acima do clube, isso jamais pode acontecer pois sao todas figuras passageiras o Vasco é centenário e imortal. Disputas estas, que so prejudicam o clube...isso porque estamos falando de vascainos.Para mim o projeto da 3 camisa teve exito pois foram vendidas muitas camisas e entrou dinheiro para o clube, eu nao acho a camisa mais bonita do vasco nem a mais feia e comprei a minha.Por fim, o que nao pode acontecer e o Vasco atrasar salarios, nao ter CT, ter uma instabilidade politica que atrapalha dentro e fora de campo, nao ter um patrocinio bom para gerar receitas para o clube, em 9 anos ganhar 9 titulos, montar elencos fracos,.........
    Abracos!
    SAudacoes Vascainas!

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