CADA PALMO DE SÃO JANUARIO TEM MAIS HISTÓRIA
DO QUE QUALQUER OUTRO ESTÁDIO DO BRASIL.
E mais um vez a nação vascaína ficou feliz. Não com a vitória do nosso time. Mas com a derrota do nosso grande rival. Na verdade, rivais nós temos muitos. Dentro da nossa própria casa eles existem. E quantos! Enquanto a gente ainda comemora a vitória do Botafogo (não tem outro jeito mesmo...) outras lembranças me vêm à mente na semana em que nosso estádio festeja seu octogésimo-terceiro aniversário. Lembranças que nunca me abandonam. Eu fico pensando... quanta história em cada azulejo do NOSSO estádio Quantas paixões sentadas no cimento de suas arquibancadas, nas cadeiras de suas sociais. Quantos monstros sagrados pisaram aquele também sagrado gramado. Lembro-me de muitos deles. Inclusive do nosso presidente. Digno do nosso aplauso e recordação pelo que fez pisando aquele santo gramado. Não sei se dá para esquecer as pisadas que nos dá agora, fora de campo. Mas dentro das quatro linhas, naquele retângulo mágico e santo ele honrou a nossa camisa... Quando entro em São Januário vejo ali, dentro do campo, fantasmas maravilhosos canonizados pela paixão vascaina. Ademir Marques de Menezes. Meu ídolo maior. Que me fez chorar quando, certa vez, seu pai obrigou-o a trocar o Vasco pelo Fluminense. Mas voltou logo. E me deu muitas alegrias. Fui conhecê-lo, pessoalmente, quando nós dois trabalhávamos no rádio. Conversamos muitas vezes e confesso: não tirava os olhos dos pés daquele homem já grisalho. Pés que me deram tantas alegrias. Pés que disparavam levando a bola e só paravam quando ela estava na rede adversária. Pés que pisaram aquele santo gramada que comemora, agora, oitenta e três anos. E eu tinha a vontade de beijar aqueles pés mais que sagrados. Um fato curioso: uma vez lembrei ao Ademir que o goleiro Garcia, do Flamengo, tinha caganeira durante toda a semana de jogo com o Vasco. Medo dele. Que sempre deixava sua marca na rede deles. Garcia tinha síndrome do Vasco.Síndrome de Ademir. Não dormia durante a semana que antecedia nossos jogos, Ademir era o centro dos seus pesadelos e insônia. Da sua ida constante ao banheiro. Então, perguntei ao ídolo se ele tinha também medo de enfrentar algum time. Ele me respondeu: “Tinha sim. Tinha medo do América.” Fiquei estupefato. América? Logo o América que, embora naquela época fosse grande, não nos incomodava tanto? Ademir explicou: “Era por causa do Godofredo, lateral esquerdo deles. O cara batia da cintura pra cima e da cintura pra baixo.Se pudesse mandava até a alma da gente pro Departamento Médico. Eu era vítima dele. Na semana de jogo com América ficava preocupado em saber onde o Godofredo me atingiria.” Ademir,.. Pés sagrados que eu. enfim, beijei depois que estava morto, agradecendo a Deus por eles terem pisado o santo gramado.Como beijei no caixão os pés do Chico e do Vavá. As mãos do Barbosa. Como me lembro das velhas tardes de domingo, eu ainda menino, no interior de Minas, ouvindo a potente Rádio Nacional. Os foguetes começavam a espocar. Não era queima de fogos como hoje não. Era uma queima artesanal. Individual. Cada um soltando seus foguetes. Um barulho ensurdecedor. O velho rádio a válvulas me fazia tremer de emoção. Passado o foguetório, ouvia-se a mais bonita,a mais clássica, a inigualável execução musical oriunda de um talo de mamona. Era o então jovem Ramalho anunciando que ele estava chegando. A torcida procurando ficar o mais possível perto dele. Gramado de São Januário. Lelé, o nosso canhão. Tinha chumbo no pé direito. Chegou a mandar o goleiro Maspoli da seleção uruguaia para o hospital. É que ele se atreveu a defender uma bola chutada pelo Lelé.Foi com bola e tudo, inclusive a mão direita fraturada, pra dentro do gol. O canhão de São Januário que virou sucesso de carnaval: “Vamos lá que hoje é de graça, no boteco do José. Entra homem entra menino, entra velho entra mulher. É só dizer que é vascaíno,que é amigo do Lelé.” Santo gramado pisado por Ipojucan. Grandalhão, com ar de desajeitado, que fazia o que parecia impossível com a bola. Tècnicamente, ninguém parecido com ele. Gramado pisado pelos príncipes Danilo e Giovani, Mauro Galvão, o doutor da zaga, Bellini, Brito, Vavá e Orlando, campeões do mundo. Santo gramado pisado por Pinga, Augusto, Mazinho, Romário, Edmundo, Juninho, Felipe, Maneca e tantos outros. Gramado santo que foi palco do gol tri- lençol do Vivinho, que virou placa que depois tiraram, ninguém sabe porque. Gramado muitas vezes invadido depois das vitórias pelo Eli, Dulce Rosalinda e seus cúmplices de vascainice. Lembram-se do Sabará? Um ponta direita veloz que partia pra dentro da área fazendo o facão (como diziam os técnicos de antigamente) e que só não foi maior porque viveu na era de Garrincha e Julinho. Um dia, alguém que exercia o poder no Santos quis comprar o seu passe. Ofereceu oitocentos mil cruzeiros pelo Sabará e ainda mandavam um garoto de lambuja para São Januário. Um tal de Pelé, que ainda era promessa.Ele mesmo - Edson Arantes do Nascimento. O Vasco não quis. Mas, assim como Sabará, o maior craque do mundo de todos os tempos também vestiu a camisa do Vasco. E pisou o seu gramado. Vou ficando por aqui. Nenhum gramado, em tempo algum, em lugar nenhum, foi pisado por tantos artistas da bola como o nosso. Claro que já foi pisado também por algumas barangas. Que antigamente não se criavam. Algumas delas ainda pisam o nosso santo gramado. Num ato de sacrilégio e desrespeito. Quando o nosso time entrar, quarta-feira, para jogar com o Coríntians genérico do Paraná, estarei olhando mais uma vez para o gramado octogenário. E como sonhar não é pecado, de olhos abertos estarei sonhando com os meus deliciosos fantasmas do passado, ali dentro, pisando com amor,carinho e craqueza o santo gramado, ajudando nosso limitado time de hoje. E que se dane ou se f., se quiserem, quem me taxar de saudosista. Se não fosse o glorioso passado a mídia não estaria lembrando hoje que no dia vinte e um de abril próximo o estádio de São Januário completa 83 anos. Obrigado, meu Deus. SARAVASCO!
domingo, 18 de abril de 2010
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São Januário tem a mais bela história dos Estádios do Mundo.
ResponderExcluirQuanto ao Botafogo, a justiça foi feita, roubaram o nosso Vascão e não adiantou nada. Parabéns aos Botafoguenses.
Obs: Ajude a eleger a Nova Musa do Blog do Vascão.
Abraço
Jeferson
Blog do Vascão
A verdade sobre o goleiro Bruno:
ResponderExcluirhttp://temjukkanaweb.blogspot.com/search/label/Jukka%20Tv%203
Opa,
ResponderExcluirBelo texto sábio Áureo.
Acho que o momento do Vasco é reconstruir as mazelas do passado e as que rondam ainda hoje.
Já que não se tem dinheiro para contratar por que não olhar a nossa base com olhos mais aguçados.
Amo o VASCO DA GAMA, meu clube de coração.
O VASCO é imortal.
ABraços!
Saudaçoes Vascaínas!